Esse povo gaúcho , é mesmo bom barbaridade, Tchê!


Dicionário (palavras tipicas do povo gaúcho)


A


abancar: Tomar banco, sentar-se.


água-de-cheiro: Perfume, extrato.


alazão: Pelagem de cavalo cor de canela.


amargo: O mesmo que chimarrão.


anca: Quarto traseiro dos quadrúpedes. Garupa do cavalo. O traseiro do vacum.


aparte: Ato de separar o gado, para abate, marcação, vacina, banho ou venda.


aperos: Arreios, os preparos necessários para encilhar o cavalo.


aprochegar: Chegar perto, unir-se.


armada: Roda que se faz com o laço para atirar, com intenção de laçar a res.


arranchar: Formar rancho, arranjar onde morar.


arreios: Conjunto de peças com que se prepara um cavalo para montar.


azulego: Pelagem de cavalo azul quase preto, entremeado de pintas brancas, produzindo um reflexo azulado.


B


badana: Pele macia e lavrada que se coloca, na encilha do cavalo de montaria, por cima dos pelegos ou do coxonilho, se houver.


bagual: Cavalo manso que se tornou selvagem. Potro recém domado, arisco. Reprodutor, animal não castrado.


baio: Pelagem de cavalo cor de ouro desmaiado.


baita: Grande, enorme.


baixeiro: Espécie de lã, integrante dos arreios, que põe no lombo do cavalo, por baixo da carona.


barroso: Pelagem de cavalo cor branca amarelada; há diversas tonalidades: barroso claro, amarelo, fumaça.


bichará: poncho feito de tecido grosseiro de lã.


bicheira: Ferida nos animais, contendo vermes depositados pelas moscas varejeiras. Para sua cura, além de medicação, são largamente utilizadas as simpatias e benzeduras. Doença forte em geral. Mau-olhado.


bidê: Mesinha de cabeceira.


biriva: Nome dado aos habitantes de cima da Serra, descendentes de bandeirantes, ou aos tropeiros paulistas, os quais geralmente andavam em mulas e tinham um sotaque especial diferente do da fronteira ou da região baixa do Estado. Variações: beriva, beriba, biriba.


bodoque: Estilingue, funda.


boleadeiras: Instrumento de captura desenvolvido pelos índios charruas. É feito com três pedras redondas, presas por uma tira de couro trançado. Usa-se rodando acima da cabeça e lançando nas pernas do animal. Com o movimento, ao bater nas pernas, enrola e derruba o animal, prendendo-o.


bolicheiro: Dono de bolicho.


bolicho: Casa de negócio de pequeno sortimento e de pouca importância. Bodega. Taberninha.


bomba: Objeto de metal, pelo qual é sugado o chimarrão. É um canudo, em formato de colher, tendo em uma ponta um disco perfurado e em outra um bocal.


bragado: Pelagem de cavalo, com grandes manchas brancas pela barriga.


brasino: Pelagem de cavalo, vermelho com listras pretas ou quase pretas.


bruaca: Bolsa de couro que se coloca sobre o cavalo guardando os pertences de viagem.


buena: Boa, gostosa. Interjeição, como olá.


buenacho(a): Bom, generoso, afável, bondoso, cavalheiro. Boa, gostosa.


bueno: Bom, gostoso. Mas, bem.


bugio: Macaco de médio porte, comum na região. Tipo de música e dança. Pelego curtido e pintado, em geral forrado de pano.


C


cachaço: Porco não castrado, barrasco, varrão.


calavera: Indivíduo velhaco, caloteiro, caborteiro, vagabundo, tonto, tratante.


campear: procurar o gado pelos campos.


cancha: Local preparado para jogo ou mesmo para lida. Ora é a cancha de corrida com trilhos para os parelheiros. Palavra de origem quíchua tem muitas aplicações, desde local de reuniões a caminho simplesmente: "Quando me enredo na sorte, abro cancha e sigo em frente".


capão: Diz-se ao animal mal capado. Indivíduo fraco, covarde, vil. Pequeno mato isolado no meio do campo.


carpeta: Jogo de Baralho.


carreira: Corrida de cavalos, em cancha reta. Quando participam da carreira mais de dois parelheiros, esta toma o nome de penca ou califórnia.


carreteiro: Prato típico, feito com arroz e charque.


caudilho: Chefe militar. Manda-chuva.


cestroso: Temeroso, preocupado, cabisbaixo.


chalana: Lanchão chato, tipo de música e dança.


charla: Conversa, bate-papo.


charque: Carne salgada e seca.


chasque: Recado, mensagem.


chimarrão: Infusão feita com a erva-mate. No Rio Grande ele é servido em uma cuia e tomado através de uma bomba.


china: Descendente ou mulher de índio, ou pessoa do sexo feminino que apresenta alguns dos característicos étnicos das mulheres indígenas. Cabocla, mulher morena. Mulher de vida fácil. (quíchua: xina, que significa aia).


chineiro: Grande número de chinas, índias ou caboclas. Prostíbulo.


chinóca: Mulher jovem.


chorro: Jorro.


cincha: Peça dos arreios que serve para firmar o lombilho ou o serigote sobre o lombo do animal.


cola: Rabo.


colhudo: Cavalo inteiro, não castrado. Pastor. Figuradamente, diz-se do sujeito valente, que enfrenta o perigo, que agüenta o repuxo.


corredor: Estrada que atravessa campos de criação, deles separada por cercas em ambos os lados. Há, entre as cercas, regular extensão de terra, onde, por vezes, se arrancham os que não têm onde morar.


cuia: Recipiente feito com a ponta de um porongo, onde, no Rio Grande, é servido o chimarrão.


cuiudo: O mesmo que colhudo.


cupincha: Da mesma turma. Capanga.


cusco: Cão pequeno, cão fraldeiro, cão de raça ordinária. O mesmo que guaipeca.


D


derriba: Do lado de cima.


doma: Ato de amansar um animal xucro.


domador: Amansador de potros. Peão que monta animais xucros.


E


embretado: Encerrado no brete. Metido em apertos, em apuros, em dificuldades; enrascado, emaranhado.


entrevero: Mistura, desordem, confusão, de pessoas, animais ou objetos. Recontro em que as tropas combatentes, no ardor da luta, se misturam em desordem, brigando individualmente, corpo a corpo, sem mais obedecer a comando, usando predominantemente a arma branca.


erva: Erva-mate.


esgualepado: Vivente meio desarrumado, desengonçado, liquidado por causa da canha ou da peleia.


estribo: Peça presa ao loro, de cada lado da sela, e na qual o cavaleiro firma o pé.


F


faceiro: Contente.


fiambre: Alimento para viagem, geralmente carne fria, assada ou cozida.


flaquito: Fraco, cansado, magro, pobre.


flete: Cavalo bom e de bela aparência, encilhado com luxo e elegância.


fora: No campo.


G


gadaria: Porção de gado, grande quantidade de gado, todo gado existente em uma estância ou em uma invernada.


galpão: Construção rústica, existente nas estâncias, destinada ao abrigo de homens e de apetrechos.


ganiçar: Ganir.


gaudério: Pessoa que não tem ocupação séria e vive à custa dos outros, andando de casa em casa. Parasita, amigo de viver à custa alheia.


graxaim: Guaraxaim, sorro, zorro. Pequeno animal semelhante ao cão, que gosta de roer cordas, principalmente de couro cru e engraxadas ou ensebadas, e de comer aves domésticas. Sai, geralmente, à noite. É muito comum em toda a campanha.


gringo: Denominação dada ao estrangeiro em geral, com exceção do português e do hispano-americano, principalmente utilizada para denominar imigrante italiano e seus descendentes. Qualquer indivíduo loiro.


guaiaca: Cinto largo de couro macio, que serve para o porte de armas e para guardar dinheiro e pequenos objetos. Indivíduo fora de moda, sem estilo.


guaipeca: Cão pequeno, cusco, cachorrinho de pernas tortas, cãozinho ordinário, vira-lata, sem raça definida. Pequeno, de minguada estatura. Aplica-se, também, às pessoas, com sentido depreciativo.


guampa: O mesmo que chifre, usado nos mesmos vários sentidos.


guapo: Forte, vigoroso, valente, bravo, belo.


guasca: Tira de couro crú. Indivíduo sem trato social. Ignorante, metido, valente.


guasqueaço: Pancada, golpe dado com guasca. Relhaço, relhada, chicotada, chibatada, correada, açoite.


guri: Criança, menino, piazinho, serviçal para trabalhos leves nas estâncias.


H


haragano: Cavalo que, por viver muito tempo solto, sem prestar serviço, se torna arisco, espantadiço.


hasta: Até.


I


indiada: grande quantidade de homens do campo.


índio: Indivíduo, sujeito pobre.


invernada: Extensão de campo cercado.


J


joão-grande: Pessoa alta, metido, ganancioso.


judiado: Machucado, sem forças, acabado.


jururu: Cabisbaixo, tristonho, abatido.


L


lançante: Forte declive num cerro ou coxilha.


lasqueado: Trouxa, metido a besta, passado.


légua: Medida itinerária equivalente a 3.000 braças ou 6.600 metros. O mesmo que légua de sesmaria.


lida: Trabalho no campo. Qualquer tipo de trabalho.


loco: Interjeição para muito, como em: "Loco de especial".


lomba: Qualquer terreno em declive.


M


macanudo: Designa alguém ou algo legal, bonito.


mamão: Animal que ainda mama. Indivíduo explorador.


mamona: Terneira de sobreano que ainda mama.


mangueira: Grande curral construído de pedra ou de madeira, junto à casa da estância, destinado a encerrar o gado para marcação, castração, cura de bicheiras, aparte e outros trabalhos.


manotaço: Pancada que o cavalo dá com uma das patas dianteiras, ou com ambas. Bofetada, pancada com a mão dada por pessoa.


mate: O mesmo que chimarrão.


matungo: cavalo velho, muito manso, quase imprestável.


maula: Covarde, medroso.


mosquinha: Mosquito borrachudo.


N


negacear: Recusar-se, resistir.


O


orelhano: Animal sem marca, nem sinal. Pessoa de baixo nível social, sem família.


P


paisano: Do mesmo país. Amigo, camarada.


pala: Poncho leve, de brim, lã ou seda, de feitio quadrilátero e com as extremidades franjadas.


palanque: Esteio grosso e forte cravado no chão, com mais de dois metros de altura e trinta centímetros aproximadamente de diâmetro, localizado na mangueira ou curral, no qual se atam os animais, para doma, para a cura de bicheiras ou outros serviços.


papudo: Indivíduo que tem papo. Balaqueiro, jactancioso, blasonador. O termo é empregado para insultar, provocar, depreciar, menosprezar outra pessoa, embora esta não tenha papo.


patrão: Dono da estância ou fazenda. Designação dada ao presidente de Centro de Tradições Gaúchas (CTG). Deus.


peleia: Peleja, pugilato, contenda, briga, rusga, disputa, combate, luta entre forças beligerantes.


pelear: Brigar, lutar, combater, pelejar, teimar, disputar.


pelego: Couro da ovelha, com a lâ, usado para amaciar a montaria, colocado acima dos arreios. Por deixar-se montar, sujeito submisso a um ou a vários outros.


penca: corrida de cavalos em cancha reta.


pereba: Ferida, de crosta dura, que sai geralmente no lombo dos animais. Mazela, sarna, cicatriz. Aplica-se, também, às feridas que saem nas pessoas. Pessoa de mau caráter ou inábil.


petiço: Cavalo pequeno, curto, baixo.


piá: o mesmo que guri.


pingo: Cavalo.


piquete: Pequeno potreiro, ao lado da casa, onde se põe ao pasto os animais utilizados diariamente.


poncho: Espécie de capa de lã, de forma retangular, ovalada ou redonda, com uma abertura no centro, por onde se enfia a cabeça. É feito geralmente de pano azul, com forro de baeta vermelha. É o agasalho tradicional do gaúcho do campo. Na cama de pelegos, serve de coberta. A cavalo, resguarda o cavaleiro da chuva e do frio.


potrilho: Cavalo durante o período de amamentação, isto é, desde que nasce até dois anos de idade. Potranco, potreco, potranquinho.


prenda: A mulher do gaúcho. Mulher bonita, com bons dotes, prendada.


pulperia: Pequena casa de negócio no campo, bodega.


Q


qüera: Homem, gaúcho, gaudério.


queréla: Disputa, discussão.


quincha: Cobertura de casa ou carreta, feita de santa-fé ou de outro capim seco.


R


rapariga: Prostituta, mulher de vida fácil. Jovem.


rebenque: Instrumento de açoite do cavalo. Chicote curto, com o cabo retovado, com uma palma de couro na extremidade. Pequeno relho.


redomão: Cavalo recém domado, que ainda não está bem manso.


regalo: Presente, brinde.


relho: Chicote com cabo de madeira e açoiteira de tranças semelhantes a de laço, com um pedaço de guasca na ponta.


repontar: Tocar o gado por diante de um lugar para outro.


rosilho: Cavalo de pelo avermelhado.


russilhonas: Botas de cano alto, de couro amarelo.


S


sacanagem: brincadeira forte ou de mau gosto.


sanga: Pequeno curso d'água menor que um regato ou arroio.


sesmaria: Antiga medida agrária correspondente a três léguas quadradas, ou seja a 13.068 hectares. São 3000 por 9000 braças, ou 6.600 por 19.800 metros, ou ainda, 130.680.000 metros quadrados.


sinuelo: Animal manso, que serve de guia dos outros xucros.


soga: Corda feita de couro, ou de fibra vegetal, ou ainda de crina de animal, utilizada para prender o cavalo à estaca ou ao pau-de-arrasto, quando é posto a pastar. Corda de couro torcido ou trançado, que liga entre si as pedras das boleadeiras.


sorver: Beber aspirando, beber lentamente.


T


taipa: Represa de leivas, nas lavouras de arroz. Cerca de pedra, na região serrana. Tapado, burro, ignorante.


talho: Corte, ferimento. Lado cortante da faca.


tchê: Homem, em quíchua. Meu, cara.


tirador: Espécie de avental de couro macio, que os laçadores usam pendente ao lado da cintura, para proteger do atrito do laço.


tosa: Tosquia, toso, esquila. Remover a lã da ovelha.


tosquiador: Homem que realiza a tosa, ou tosquia.


tranco: Passo largo, firme e seguro, do cavalo ou do homem. Empurrão. Rapidamente, bruscamente.


U


upa: Abraço. Rápido.


V


vacaria: Grande número de vacas. Grande extensão de campo, que os jesuítas reservavam para criação de gado bovino.


vaqueano: Aquele que, conhecendo bem os caminhos e atalhos de um lugar ou região, serve de guia.


viração: Prostituição. Viver sem profissão definida.


vivente: Indivíduo.


X


xucro: Animal ainda não domado, bravio, arrisco. Pessoa sem hábitos sociais.


Y


Z


zaino: Cavalo castanho escuro.


zunir: Ir-se apressadamente, soar.


Expressões


Abrir cancha: Distanciar-se, abrir espaço para alguém passar.


A cabresto: Conduzido pelo cabresto. Submetido.


A la pucha: Exprime admiração, espanto.


Á meia guampa: Meio embriagado, levemente ébrio.


Aspa-Torta Chifre entortado de certas cabeças de gado. Diz-se do vivente enraivado, para quem qualquer pormenor é motivo para pelear, como em "Não fique de graça com o João Cardoso, que hoje o bagual está de aspa-torta!".


Bater a canastra: Morrer.


Bolear a perna: Descer do cavalo.


Botar guampa: Trair a esposa ou o marido, o mesmo que botar chifres.


Chorar as pitângas: Reclamar, lamuriar.


Com o estribo frouxo: Descontrolado, perdido, enlouquecido.


Com o pé no estribo: Pronto para partir, com pressa.


Daí Tchê: Olá, oi.


Dar carão: Recusar a dança. Xingar.


De laço a laço: Por toda a extensão, completamente, minuciosamente.


De prima: Na primeira tentativa.


Duro de boca: Diz-se do animal que não obedece à ação das rédeas. Indivíduo rebelde.


Em cima do laço: No último instante, de repente.


Frio de renguear cusco: Muito frio, insuportável.


Enrolar o poncho: Preparar-se para ir embora, morrer.


Gastar pólvora em chimango: Perder tempo, desperdiçar a conversa, sem resultado.


Juntar os pelegos: O mesmo que juntar os panos, unir-se.


Lado de laçar: lado direito.


Lado de montar: lado esquerdo.


Largar campo afora: Deixar que vá embora.


Loco de especial: Muito diferenciado.


Lombo de sem-vergonha: Ordinário, safado, muito sem-vergonha.


Mal enfrenado: Que passa das medidas, que não tem freio.


Não aquentar banco: Não se demorar, em visita. O mesmo que não esquentar o banco.


Num upa: Num abrir e fechar de olhos. De um golpe, rapidamente.


Oigalê: Exprime admiração, espanto, alegria.


Passar no pelego: Transar, ter relação sexual.


Passar o relho: Dar uma surra.


Que Tal?: Tudo bem?


Tirar o culo: Ter azar, entrar mal, em uma referência a jogada perdedora do jogo do osso

Video de orações gaúchas.







Gaúcho é um povo que tem muita fé , afinal como diz a Musica: " DEUS É GAÚCHO DE ESPORA MANGO , FOI MARAGATO OU FOI CHIMANGO....

E ASSUNTO ENCERRADO!

Conheça algumas orações gaúchas barbaridade!

Ave Maria do Gaúcho
Teixeirinha

Ave Maria do Gaúcho quando ele sai campo a fora
Também reza um Padre-Nosso pede pra Nossa Senhora
Pra livrar raio e trovoada temporal vem sem demora
A chinoca lá no rancho também reza nesta hora
Ele apressa sua tropa era boi vamos embora

“Virgem-Santa ouve as preces que ele rezou com fervor
o temporal já se espalha e o céu já muda de cor
ele tira o seu chapéu olha o céu do Redentor
obrigado Virgem-Santa
obrigado meu Senhor
posso voltar pro meu rancho
ver a china meu amor"

Na planície ou na coxilha lá vai um gaúcho andando
Muitas vezes numa restinga tem uma cobra esperando
No estouro de uma tropa ou um boi brabo avançando
Na rodada de um cavalo ou um furacão roncando
Pra livrar destes perigos Ave-Maria vai rezando: era boi!

Primeira prenda do céu Santa-Virgem Imaculada
Protege o gaúcho andando na coxilha ou na canhada
E assim ele prossegue chegar ao fim da jornada
Entra no rancho cantando com a bolsa recheada
Para agradecer a Virgem reza junto a sua amada
Ave-Maria, Ave-Maria abençoada.


Oração do Chimarrão

Senhor!
Quero agradecer-vos o Dom do chimarrão, fruto da erva-mate. Sua cor verde lembra-me a esperança.
A bomba do chimarrão sugando a água quente é sinal de vida. A cuia arredondada é símbolo de amor universal. A roda do chimarrão representa o calor do coração humano que une o gaúcho. Todos bebem na mesma fonte, na mesma bomba.
Senhor!
Agradeço o Dom do chimarrão como remédio para o corpo e estimulante para o espírito.
Agradeço também as diversas vitaminas e outros elementos provenientes da erva-mate, além de matar a sede, fortifica o organismo.
Senhor!
Fazei-me compreender que tomar chimarrão sozinho perde grande parte de sua eficácia, pois ele é uma espécie de oração ou liturgia comunitária, lembrando a Vossa Palavra: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, estarei no meio deles”.
Quantas estórias, anedotas e novidades contadas e estudadas ao redor do fogão a lenha espantaram o mau humor. Quantos problemas solucionados e quantas intrigas consertadas.
Senhor!
Quantos casais, famílias e vizinhos conservaram-se unidos por causa do chimarrão.
Senhor!
Até o silêncio entre uma e outra tragada do chimarrão pode converter-se em virtude. Casal unido pelo chimarrão permanece unido.
Obrigado Senhor pelo chimarrão!










Oração do Gaúcho
Dom Luiz Felpe de Nadal

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
e com licença, Patrão Celestial
Vou chegando, despacito, enquanto cevo o amargo de minhas confidências
Porque ao romper da madrugada e o descambar do sol,
preciso camperear por outras invernadas e repontar do céu
A força e a coragem para o entrevero do dia que passa
Eu bem sei que qualquer guasca, bem pilchado, de faca e rebenque e esporas
Se não se afirma nos arreios da vida,
não se estriba na proteção do céu.
Ouve, Patrão Celeste, a oração que te faço.
Ao romper da madrugada e o descambar do sol, tomara que todo o mundo seja como irmão
Ajuda-me a perdoar as afrontas e não fazer aos outros o que não quero pra mim.
Perdoa, meu Senhor, porque rengueando pelas canhadas da fraqueza humana
De quando em vez, quase sem querer,
eu me solto porteira afora...
Êta potrilho chucro, renegado e caborteiro...
Mas eu te garanto, meu Senhor, quero ser bom e direito
Ajuda-me Virgem Maria, primeira prenda do céu
Socorre-me São Pedro, capataz da estância gaúcha
Mas pra fim de conversa vou te dizer meu Deus,
mas somente pra ti:
Que a tua vontade leve a minha de cabresto
pra todo o sempre até a querência do céu.
Amém



Ave Maria do Peão
Odilon Ramos

Ao reponte do sol que descamba
no dia se aprochega para o arremate
pelos campos e nos matos da querência
no revoar da bicharada voltando ao ninho
é hora de recolhimento
No rancho que há no interior de mim mesmo
eu, gaúcho de fé me arrincono e medito
Despindo o poncho da vaidade e do orgulho
tiro o chapéu, apago o pito
e me achego pra uma prosa
com o patrão maior
Na sua presença meu sangue quente de farrapo
se faz manso caudal
entrego-lhe minha alma
afoita de alcançar lonjuras e abrir cancha
em busca do destino
renuncio à minha xucra rebeldia
me faço doce de volta e macio de tranco
para dizer-lhe
Gracias patrão
por tudo que me deste por esta querência Senhor
que meus ancestrais regaram
com seu sangue e que aprendi a amar desde piá
Pelos meus parceiros nessa ronda da vida
sempre de prontidão para me amadrinharem na
campereada mais custosa ou para matearem comigo
na hora do sossego
Reparte com eles, patrão
esta fé que me deste e este orgulho pela minha querência
Ajuda patrão a manter acessa esta chama
concede sempre ao gaúcho a força no braço
e o tino pra saber o que é correto
Dá-nos consciência para preservar a nossa cultura
livre da invasão dos modismos
conserva a essência e a beleza da nossa tradição
E agora, com licença patrão
que vou aproveitar a olada
para um dedo de prosa com
Nossa Senhora.
Ave Maria primeira prenda do céu
contigo está o Senhor, na estância maior
tu és bendita entre todas as prendas
e bendito é o piá que trouxeste ao mundo, Jesus
Maria, mãe de Deus
E mãe de todos nós
roga pela querência e pelos gaudérios
que aqui moram nesta hora e no instante
da última cavalgada
Amém.



Pai Nosso

Pai nosso,
bendito seja teu sagrado nome,
lembra-te de quem tem fome,
torna mais leve sua cruz
e envolve com tua luz
quem teu pão sagrado come.

Seja feita a tua vontade
conforme o teu mandamento,
mas, dá-nos força e alento
quer no fracasso ou na dor
e aos meus irmãos, muito amor,
muita paz e entendimento.

Abençoa a nossa casa
e aos que já foram pro além
que a caridade e o bem
se façam em sua memória
e em teu nome, pra tua glória
por todo o sempre. Amém.



Reza Chucra
Alcy Cheuiche

Perdoe Virgem Maria
Por lhe tomar atenção,
Envolvendo um coração
Tão puro e tão adorado,
Nesta miséria qu'eu trago,
Que arrasto, é melhor que diga,
Por esta terra inimiga,
Onde nunca fui amado.

A Senhora bem se lembra
Que nem sempre foi assim...

Embora não fosse em mim
Que a fortuna tinha ninho,
Eu bem que tive carinho
E uma mulher cuidadosa
Que me deixava de jeito,
Um lenço branco no peito,
A bombacha bem limpinha,
Quando para a igreja eu vinha,
No tempo qu'eu fui feliz.

Agora olhe pra mim.
Veja esta roupa rasgada
Qu'eu carrego com vergonha.
Parece que a gente sonha,
Quando vê que não é nada
Prá dominar o seu vício
Quando eu morava no pago
As vezes tomava um trago
No mais prá molhá a garganta
E agora querida Santa,
Até virei cachaceiro,
Depois que bebo o primeiro
Não há nada que me pare.
E depois até que eu sare
Vem me subindo a cabeça
Toda essa vida passada
E o rosto da minha amada
Enxergo assim como em sonho...

Ó minha Nossa Senhora,
Escute ao menos agora
Um pedido que le faço.

Sei que a morte já me ronda
Pela porteira do rancho...
Até já vejo os caranchos
Rodeando em volta de mim.

Reconheço o meu pecado,
E quando tiver chegado
Lá na fronteira do céu
Vão me apontar outro rumo:
Ovelha com mancha preta
Bota a marca na paleta
Que só serve prá o consumo.

Prá mim não há mais remédio,
Não é prá mim o pedido.
Sou índio chucro vencido
Pelo vício aqui do povo. Eu peço é pelo meu filho,
Que abandonei lá no pago
Quando a sina de índio vago
Me arrebatou da querência.


Proteja a sua inocência...
Não deixe que o coitadinho
Siga este duro caminho
Que está seguindo seu pai.


Que fique por toda a vida
Grudado naquele chão,
Que resista a tentação
Com toda a força de machd,
Que não morra como guacho
Quando pará o coração.



Charla do Padre
Frei Sadi Rambo

Ó Jesus Divino Tropeiro,
filho do Patrão Celeste,
ao mundo vieste,
lá da Estância Celestial;
pra nos afastar do mal
nos trouxeste o perdão.
Unidos num só coração,
fazemos a nossa prece:
o Rio Grande, agora, te agradece,
pela gaúcha tradição.

Quando chega a primavera,
e o campo rebenta em flor,
Tu nos mostras o Pai Criador,
lá na roça e cá na cidade.
Acredite, que é verdade:
a palavra é a lei do pajador;
neste dia abençoado
peão e prenda, de todo lado,
não se esquiva e nem se humilha,
celebrando a Semana Farroupilha,
do Sul ao Norte do nosso Estado.

Num sentimento bem fraterno,
venho falar de Nosso Senhor:
verdadeiro guia e pastor
do rebanho terrestre;
Jesus é o nosso mestre,
irmão e companheiro,
que veio por primeiro,
pra nos arrebanhar.
Se houver ovelha perdida,
mal criada ou até sem vida,
Ele nos mostrou o caminho:
que ninguém vive sozinho,
sem ter alguém pra amar.

Jesus, o Divino Tropeiro,
fez morada de verdade,
com amor e fraternidade
no mundo inteiro;
como gaúcho primeiro
só nos pede guarida,
paz e respeito à Vida,
pra toda a humanidade.

Por isso, neste galpão,
reunidos de corpo e mente,
se fazendo Deus presente
com a benção e a oração,
peço ao Deus Patrão
que nos permita um afago
neste horizonte do Estado,
enlaçando a fronteira:
gente buena e hospitaleira,
bem ao sul do coração!



A Oração do Posteiro
Aureliano de Figueiredo Pinto

De tarde... Boleio a perna
e maneio o redomão,
-no portão do cemintério.
(Tauras... santas... e gaudérios...
tudo em baixo deste chão!)
- Ë aqui... A cruz... Pé de flor...
Me ajoelho... E, a voz num temblor,
rezo uma pobre oração:
Mãe-velha! Aqui está o teu piá,
meio estropiado do mundo!
Com o meu recuerdo mais fundo
te juro por esta luz:
- Mãe-velha! pela saudade
da tua antiga bondade,
eu vim te ver na tua cruz. Tua benção venho buscar
para os vereios da vida.
Trago espichada e estendida
minha esperança de pobre.
Com medo que ela arrebente,
venho te ver novamente
sobre este chão que te encobre.


Mãe-velha! Não fui maleva!
Eu nunca te contrariei.
E, se um dia, te magoei,
logo pedi o teu perdão!
Como quando tu vivias,
no meu jardim de alegrias
derrama o teu coração.


Escuta! Santa Mãe-velha:
-Pede a Deus junto a ti,
que a estes teus netos-guris
faça uns gaúchos de alma reta
na conduta sem desmancho.
E à neta... orgulho do rancho!
porque inté é linda a tua neta.)


Me ajuda a ver se deu jeito
que eles aprendam a ler,
para o mundo compreender,
sem gritos, ralhos, nem relhos.
Por mim ensino o que posso:
-Já les dei o Padre-Nosso
e um pouco de teus conselhos.


Que eles, sendo moços feitos,
se por outros pagos cruzem,
buenos e leais, não abusem
da força que os tauras têm.
Faz, que o destino confirme,
tua neta - a gauchita firme!
que nunca engane a ninguém.


E se um dia estale a guerra,
que encarem o sol de frente!
com essa bondade valente
que vem, mãe-velha, de ti.
E honrem a marca da herança
dos que empurraram com a lança
esta fronteira até aqui!


Que a mãe deles seja sempre
a boa e fiel companheira
a quem pobreza e canseira
é um galardão de Jesus.
Quando a encontrei (comparando...
fui como um cego sarando!
-bobo do encontro com a luz.


Que eu tenha força nos braços,
coragem no coração,
para agüentar o tirão,
e a minha gente conduzir.
E me dê sorte e bom vento
para eu ganhar seu sustento
e os trapos pra eles vestir.


Que a saúde não me deixe!
para eu criar a ninhada
sem andar esparramada
como filhos de avestruz.
E com patrões mais humanos
possa eu viver muitos anos
para enfeitar tua cruz!


Bueno... Mãe-velha... Vou indo...
E ao tranco... Tenho a alma inteira
presa na estrela boieira,
que me olha, no céu parada,
também tão longe e solita...

- Como se o olhar de velhita
me acompanhasse na estrada!.